2.20@ uma cerveja numa esplanada numa praça da cidade... num cafe sossegado preenchido por um bando de loiras e uns casais envergonhados.
Por amor à carteira e farta de não me "divertir", dirigi-me a um "pubzito" de onde vinha uma musica animada... Ao pedir 2 cervejas e pagando com uma nota de 20€, recebo 18€ de troco...)
Algo se passava no reino nas tulipas (ou o empregado tinha fumado uns Joints...). Pensava eu.
Happy hour, até à 1h - disse ele. 1€ uma cerveja....
Sim, com tanta coisa para contar "foquei-me" no preço de uma cerveja... nao por nenhuma razao especifica. Apenas, finalmente, algo que me "divertiu" nesta terra... Nao que nao tenha motivos ou razões para nao me "divertir"... Só o espirito nao tem tado virado para essas coisas...
talvez quando arranjar um tecto definitivo, tudo (ou quase "tudo") passe a ser mais "divertido", mesmo que custe mais alguma coisa à carteira :)
terça-feira, 7 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Den Haag
Cheguei...
a terra das tulipas, onde se produzem queijos, existem imensas vacas e as ruas sao dominadas por bicicletas...
Nada podia ser melhor, passar 6 meses num pais bonito, calmo, mais plano que uma folha de papel ensopada pelos inumeros canais que o atravassam. Podia mas nao é...
Falta-me um tecto.
Falando assim paraco um mendigo... e só nao o sou devido a parentes, que vivem do outro extremo do pais da minha cidade de destino. Pode ser sorte, podia ter sido desleixo ou pensar pouco em algumas coisas ... nao por falta de tentar, mas por falta de tentativas!
Nestas alturas o sono perde-se, a desilusao cobrenos e a coragem esvaira-se... Nem digo o que penso fazer ao pensar ... Ninguem disse que era facil (ou barato), mas tambem ninguem disse para ficar em casa a perder um sonho de a uns anos para ca, uma oportunidade unica...
Será que vale a pena continuar ?
... tudo vale a pensa se a alma nao é pequena (agora sim, vamos ver o tamanho dela)
a terra das tulipas, onde se produzem queijos, existem imensas vacas e as ruas sao dominadas por bicicletas...
Nada podia ser melhor, passar 6 meses num pais bonito, calmo, mais plano que uma folha de papel ensopada pelos inumeros canais que o atravassam. Podia mas nao é...
Falta-me um tecto.
Falando assim paraco um mendigo... e só nao o sou devido a parentes, que vivem do outro extremo do pais da minha cidade de destino. Pode ser sorte, podia ter sido desleixo ou pensar pouco em algumas coisas ... nao por falta de tentar, mas por falta de tentativas!
Nestas alturas o sono perde-se, a desilusao cobrenos e a coragem esvaira-se... Nem digo o que penso fazer ao pensar ... Ninguem disse que era facil (ou barato), mas tambem ninguem disse para ficar em casa a perder um sonho de a uns anos para ca, uma oportunidade unica...
Será que vale a pena continuar ?
... tudo vale a pensa se a alma nao é pequena (agora sim, vamos ver o tamanho dela)
terça-feira, 6 de julho de 2010
Não me apetece escrever.
Apetece-me tanto escrever como a vontade que tenho de ir trabalhar...
para a beira da praia, com um calor tórrido. Enquanto os miúdos e graúdos se passeiam na areia
e as meninas passeiam os seus bikinis invejo-me...
Resigno o meu sol balealesco pela névoa e quiçá neve holandesa... valerá a pena?
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena".
Afinal escrevi qualquer coisa... mas a vontade de ir trabalhar é a mesma...
para a beira da praia, com um calor tórrido. Enquanto os miúdos e graúdos se passeiam na areia
e as meninas passeiam os seus bikinis invejo-me...
Resigno o meu sol balealesco pela névoa e quiçá neve holandesa... valerá a pena?
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena".
Afinal escrevi qualquer coisa... mas a vontade de ir trabalhar é a mesma...
sábado, 1 de maio de 2010
Ainda bem que há gente boa (Parte III)
Já a sala da Mónica estava repleta de gargalhadas e vozes opinativas sobre como iria ser o próximo chapéu a desfilar no concurso quando chegámos. Enquanto isso, já o Sr. Armando, responsável pelo Centro, estava junto à sua secretária com o telefone ao ouvido a falar e a gesticular de forma energética. “Já está marcada a excursão ao Glorioso”, dizia ele, antecedendo o convite, sobre visita que o centro iria organizar ao Estádio da Luz, à catedral do seu Benfica, marcada para meados de Agosto. Entre isto estava a azafama de organizar um anúncio à população de uma visita ao Oceanário de Lisboa, e ao Museu dos Coches, marcada para o dia 25 de Abril. Ninguém diria que o Sr. Armando está de cadeira de rodas, visto o seu carácter, a sua postura, a sua alegria de viver, o espelho ideal daquilo que é, e do que pretende para aquele centro. Referia ainda que estas excursões, entre outras iniciativas, “são uma boa fonte de receita para o centro. “Ainda há uns tempos fizemos um jantar no clube para quem se quisesse inscrever, alguns até davam mais do que o preço, outros traziam bolos para juntar à festa”, explica. É da solidariedade das próprias pessoas que são ajudadas, ou que dispõe dos seus serviços, tal como a passagem de roupa a ferro que entretêm as duas auxiliares durante a tarde e contribui para os “cofres” da Associação. “Quando comprámos a carrinha houve quem desse 1.000€, outros 500€ e por ai fora. Com os peditórios e outras ajudas da Câmara de Óbidos que nos deu 5.000€ a carrinha está praticamente paga em poucos meses”, recorda. Também o forno que equipa a cozinha foi uma oferenda, e a estas migalhas contam também as cotas dos associados do Centro e a galinha vai ficando de papo cheio.
Tudo isto, em prol da melhoria de vida de quem mais precisa, de quem menos pode, de quem, numa fase da sua vida já foi como nós, jovens, e de como um dia seremos idosos e dependentes. Um reflexo de cidadania e de respeito pelo ser humano que é de louvar e agradecer a coragem e o trabalho incansável (como diz a prima Arminda) destas “meninas”, e não só, a quem só apetece dizer: “Ainda bem que ainda há gente boa!”.
Tudo isto, em prol da melhoria de vida de quem mais precisa, de quem menos pode, de quem, numa fase da sua vida já foi como nós, jovens, e de como um dia seremos idosos e dependentes. Um reflexo de cidadania e de respeito pelo ser humano que é de louvar e agradecer a coragem e o trabalho incansável (como diz a prima Arminda) destas “meninas”, e não só, a quem só apetece dizer: “Ainda bem que ainda há gente boa!”.
Ainda bem que há gente boa (Parte II)
Nesta localidade onde se encontra esta aldeia de A-da-Gorda no Concelho de Óbidos a 1 707Km de Paris, cidade onde em 1948 foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e onde no artigo 22º pode ler-se que:
“Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.”
Talvez este artigo não tenha ligação ao que se passa numa terriola que tem tantos habitantes quantas pessoas visitam a cada hora a torre Eiffel. Tanto estes visitantes como aqueles habitantes dum lugar incógnito são humanos, têm direitos, e daí, são alvos desta declaração. Infelizmente, nem a prima Arminda nem a Sra que sofre de Alzheimer podem, agora, vislumbrar da verdura dos Campos Elísios ou a imponência do Arco do Triunfo. Mas com a ajuda do apoio domiciliário e social da Associação “Presente e Futuro”, que pertence, em conjunto, com outros centros de outras localidade, à rede de Centros de Dia a Convívio “Melhor Idade” na Freguesia de Santa Maria, Óbidos, é possível repor-lhes um sorriso na cara e um prato de comida quente. Este serviço de refeições não se traduz apenas no consumo interno da associação, é também uma das suas fontes de receita desta, tal como outros serviços.
Diariamente são distribuídas várias refeições pelos domicílios dos que mais precisam. “Há pouco tempo atrás íamos a casa de um casal muito idoso e ponhamos-lhes a mesa e o comer no prato e eles só tinham de usar os talheres” recorda a Dª. Ana, acrescenta: “e em vez de irmos na parte da tarde para arrumar a mesa e tratar do resto da casa como fazemos em alguns casos, eles pagavam a uma vizinha para ir fazer o nosso serviço.” Hoje não houve oportunidade de conhecer esse casal, morreram os dois no espaço de 2 meses.
Mas tive o prazer de ir a casa de um ex-militar das Forças Armadas e de sua mulher, vivaça e espevitada, que contrasta com as limitações físicas do seu companheiro (mas mesmo assim são praticamente independentes), que se exercitava numa passadeira para cumprir o seu “dever” de se mover: “se for lá para fora tinha logo de parar por causa das dores, aqui estou como quero e os apoios da máquina são melhores do que as muletas”, dizia, antes de explicar que o seu estado de segurança neste aparelho se devia a um sistema de segurança que a passadeira trazia, que em caso de desequilíbrio, esta pára imediatamente. A falta de saúde levou-o a uma experiência nova já nos seus 80 anos: “quando íamos na caravana para o Algarve tive de parar num centro de saúde no Alentejo porque estava a sentir-me muito mal, depois mandaram-me para o hospital militar, e de lá, foi recambiado para o Hospital de Faro. Foi a primeira vez que estive num hospital público!”. “Mas até que não me posso queixar, o pessoal foi fantástico, profissional, competente; pena foi o material disponível. Tive de lá ficar dois dias numa cama porque das máquinas que me iam examinar, avariaram-se as duas”, explica. Entre o barulho ruidoso do aspirador que a Dª Ana manuseava e do tilitar da porcelana polida pela Dª Noémia, lá o ex-oficial explicava as funções do seu trono, a tal cadeira, idêntico ao do reino da prima Arminda, e falava dos serões confortáveis que ali passava junto da TV como que se de um miúdo se tratasse quando pode ficar mais 5 minutos depois do jantar em frente à “caixa mágica”(só por estar).
De regresso à Associação, é explicada a razão pela qual este casal, apesar de ter um serviço ao domicílio na sua localidade (na Amoreira, a 5km da A-da-Gorda) o “recusou”, pois seria mais dispendioso: “Aquela Associação pertence a uma entidade do estado, e quem beneficia daquele serviço terá de pagar uma percentagem consoante a reforma que recebe.” Ao contrário da Associação “Presente e Futuro”, que tem uma tabela de preços fixos, onde independentemente dos rendimentos (reformas) de quem se dispõe a beneficiar dos seus serviços, pagam exactamente o mesmo. Sendo uma Associação dita “privada”, e como o dinheiro não cai do céu, o centro vive da “boa vontade das pessoas”. Ao fim-de-semana é costume fazerem-se bolos e outros petiscos consoante as encomendas e alguns até a mais que, no entanto, têm boa saída. “Ainda a semana passada fizemos dois pães de ló para o nosso lanche e depois foram lá e compraram-nos os pães. Tivemos de lanchar só o chá”, contava a Dº Noémia enquanto passeávamos, no intervalo do almoço, o Leonardo, um cão de raça S. Bernardo que ficou a seu encargo depois da emigração da filha, que, tal como as pessoas que ela visita e ajuda diáriamente, também ele tem problemas de saúde e de solidão que ela tão bem conhece.
“Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.”
Talvez este artigo não tenha ligação ao que se passa numa terriola que tem tantos habitantes quantas pessoas visitam a cada hora a torre Eiffel. Tanto estes visitantes como aqueles habitantes dum lugar incógnito são humanos, têm direitos, e daí, são alvos desta declaração. Infelizmente, nem a prima Arminda nem a Sra que sofre de Alzheimer podem, agora, vislumbrar da verdura dos Campos Elísios ou a imponência do Arco do Triunfo. Mas com a ajuda do apoio domiciliário e social da Associação “Presente e Futuro”, que pertence, em conjunto, com outros centros de outras localidade, à rede de Centros de Dia a Convívio “Melhor Idade” na Freguesia de Santa Maria, Óbidos, é possível repor-lhes um sorriso na cara e um prato de comida quente. Este serviço de refeições não se traduz apenas no consumo interno da associação, é também uma das suas fontes de receita desta, tal como outros serviços.
Diariamente são distribuídas várias refeições pelos domicílios dos que mais precisam. “Há pouco tempo atrás íamos a casa de um casal muito idoso e ponhamos-lhes a mesa e o comer no prato e eles só tinham de usar os talheres” recorda a Dª. Ana, acrescenta: “e em vez de irmos na parte da tarde para arrumar a mesa e tratar do resto da casa como fazemos em alguns casos, eles pagavam a uma vizinha para ir fazer o nosso serviço.” Hoje não houve oportunidade de conhecer esse casal, morreram os dois no espaço de 2 meses.
Mas tive o prazer de ir a casa de um ex-militar das Forças Armadas e de sua mulher, vivaça e espevitada, que contrasta com as limitações físicas do seu companheiro (mas mesmo assim são praticamente independentes), que se exercitava numa passadeira para cumprir o seu “dever” de se mover: “se for lá para fora tinha logo de parar por causa das dores, aqui estou como quero e os apoios da máquina são melhores do que as muletas”, dizia, antes de explicar que o seu estado de segurança neste aparelho se devia a um sistema de segurança que a passadeira trazia, que em caso de desequilíbrio, esta pára imediatamente. A falta de saúde levou-o a uma experiência nova já nos seus 80 anos: “quando íamos na caravana para o Algarve tive de parar num centro de saúde no Alentejo porque estava a sentir-me muito mal, depois mandaram-me para o hospital militar, e de lá, foi recambiado para o Hospital de Faro. Foi a primeira vez que estive num hospital público!”. “Mas até que não me posso queixar, o pessoal foi fantástico, profissional, competente; pena foi o material disponível. Tive de lá ficar dois dias numa cama porque das máquinas que me iam examinar, avariaram-se as duas”, explica. Entre o barulho ruidoso do aspirador que a Dª Ana manuseava e do tilitar da porcelana polida pela Dª Noémia, lá o ex-oficial explicava as funções do seu trono, a tal cadeira, idêntico ao do reino da prima Arminda, e falava dos serões confortáveis que ali passava junto da TV como que se de um miúdo se tratasse quando pode ficar mais 5 minutos depois do jantar em frente à “caixa mágica”(só por estar).
De regresso à Associação, é explicada a razão pela qual este casal, apesar de ter um serviço ao domicílio na sua localidade (na Amoreira, a 5km da A-da-Gorda) o “recusou”, pois seria mais dispendioso: “Aquela Associação pertence a uma entidade do estado, e quem beneficia daquele serviço terá de pagar uma percentagem consoante a reforma que recebe.” Ao contrário da Associação “Presente e Futuro”, que tem uma tabela de preços fixos, onde independentemente dos rendimentos (reformas) de quem se dispõe a beneficiar dos seus serviços, pagam exactamente o mesmo. Sendo uma Associação dita “privada”, e como o dinheiro não cai do céu, o centro vive da “boa vontade das pessoas”. Ao fim-de-semana é costume fazerem-se bolos e outros petiscos consoante as encomendas e alguns até a mais que, no entanto, têm boa saída. “Ainda a semana passada fizemos dois pães de ló para o nosso lanche e depois foram lá e compraram-nos os pães. Tivemos de lanchar só o chá”, contava a Dº Noémia enquanto passeávamos, no intervalo do almoço, o Leonardo, um cão de raça S. Bernardo que ficou a seu encargo depois da emigração da filha, que, tal como as pessoas que ela visita e ajuda diáriamente, também ele tem problemas de saúde e de solidão que ela tão bem conhece.
Ainda bem que há gente boa (Parte I)
Ainda bem que há gente boa
O dia-a-dia da Associação Presente e Futuro.
O dia-a-dia da Associação Presente e Futuro.
Foi até Outubro que a prima Arminda, como é chamada por aqui esteve acamada devido ao estado dos seus pés degradados que arrastaram o mal pelas pernas acima, limitando-a sistematicamente ao longo dos anos até a “atirar” para uma cama. O seu destino estava traçado: um resto de vida penoso e aborrecido, preenchido por dores e mau estar que se aliavam à solidão apenas quebrada pela presença do primo Cândido, seu companheiro de longos anos.
Felizmente, ainda há quem se disponha a contrariar este destino, e, logo a seguir ao pequeno – almoço. É o caso das equipas que fazem apoio domiciliário a quem apresenta mais dificuldades a nível físico e mental. Enquanto a Dª Noémia puxava as orelhas da cama, a Dª Ana compunha o cobertor à prima Arminda no seu sofá ortopédico com várias funções de mobilidade que hoje é para ela o verdadeiro trono do seu limitado reino. Uma Rainha “vaidosa” que falava da sua ida à cabeleireira (à qual inicialmente recusava ir dadas as dificuldades de deslocação) gabando-se do trabalho desta e de relembrar à assistente que tinha de marcar outra sessão, tudo isto explicado ao sabor dos bolinhos de côco oferecidos gentilmente por sua majestade.
A prima Arminda já está no sofá. Não, não foi para lá aos pulos de alegria (esta resume-se ao seu estado de espírito). “No início quando começámos a tratar dela, ela mal conseguia sair da cama”, conta a Dª Ana com o brilho nos olhos de como que um dever que continuamente se cumpre. E acrescenta: que “Depois de a termos conseguido deslocar numa cadeira de rodas, passámos para o andarilho (sempre com grande esforço e paciência, conseguiu-se fazer com que ela subisse um degrau na sua recuperação) e agora o próximo passo é a bengala, sozinha”. E observamo-la a andar nela enquanto se lamentava que tinha medo de se estatelar no chão e ficar logo ali...
Um caso que se pode considerar de semi-independência, onde o doente ainda se consegue movimentar por si e ter alguma autonomia que lhe conceda um certo nível de qualidade de vida.
Enquanto decorria esta visita, já a médica estava no centro a fazer o serviço de voluntariado. Serviços de rotina como medir a tensão, verificar se alguém está a sofrer de cataratas, aconselhar cada um quanto à necessidade de uma ida a um médico especialista de cada uma das necessidades. No fundo, conta a médica: “serve para ver se está tudo bem com eles”, e quem não pode vir de manhã, poderá comparecer à tarde para a sua consulta. Para além da médica “da casa” através da parceria com alguns laboratórios, é possível que estes se desloquem ao centro para realizarem as análises necessárias.
Quem já não tem esta “sorte” é a Dª Eugénia, doente com Alzheimer, completamente dependente e está “presa” a uma cama.
Para além da doença, o mal continuou a bater-lhe à porta trazendo-lhe a morte do marido, o que fez com que o seu filho a mudasse para um quarto de sua casa e a sua mulher abandonasse a sua vida profissional para se dedicar a tempo inteiro à mãe que o deu à Luz. Entre insultos e carícias, entre choros e sorrisos, como que se de mudanças de personalidade espontânea se tratasse, lá lhe conseguiram lavar o cabelo suspenso num alguidar cheio de água enquanto que com a água morna numa caneca lhe retiravam o champô da testa. Sentada já na cadeira de rodas, com auxilio da D. Ana e de sua nora, preparada para a visita ao médico que lhe trata da mesma doença que atingiu o Papa João Paulo II, entre resmungos e palavrões lá se ouviu um “desculpe menino”, como se voltasse ao consciente de uma pessoa sem problemas aparentes antes de partir para um monólogo completamente distante da nossa compreensão, por parte de alguém que deixou algo para fazer há muito, muito tempo.
A esta altura já Mónica, filha da médica voluntária, encontrava-se no centro de dia a distribuir sorrisos e alegria pelos, ainda poucos, idosos que se encontram na sala. Uma senhora ao canto estava com a cabeça junto à janela e com os pés sobre uma placa para os aquecer e dizia sentir-se muito melhor da constipação que a tinha atingido há uma semana atrás, enquanto outra se movia lentamente com o andarilho para o seu querido sofá junto à parede, “mostre-lhe os chapéus que estamos a fazer menina” murmurava, apontando para a mesa redonda de madeira que se encontrava no lado oposto da sala onde estava um chapéu de palha enfeitado com mini-fruta plástica, uma mini-ementa, uma mini-garafa de vinho, tudo em tamanho e com peso (considerável) que torne possível aos idosos transportarem na passerelle do concurso de chapéus entre os centros sociais da região.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Hoje soube-me a pouco...
Hoje soube-me a pouco,
ouvir esta música do Sérgio Godinho...
Hoje soube-me a pouco,
Dormir e faltar às aulas...
Hoje soube-me a pouco,
Fazer a cama...
Hoje soube-me a pouco,
Beber aquele café depois do almoço...
Hoje soube-me a pouco,
Ir até lá acima buscar um livro...
Hoje soube-me a pouco,
Vir para baixo fazer um trabalho...
Hoje soube-me a pouco,
Ter de vir para casa...
Hoje soube-me a pouco,
Preencher o formulário de inscrição...
Hoje soube-me a pouco,
ver o episódio de "Friends" que me fez rir...
Hoje soube-me a pouco,
Ligar o PC...
Hoje soube-me a pouco,
Mandar aquele mail...
Hoje soube-me a pouco,
Mandar-te essa mensagem...
Hoje soube-me a pouco,
ter que te responder...
Hoje soube-me a pouco,
Ligar a tv...
Hoje soube-me a pouco,
Descobrir que não me apetece sair...
Hoje soube-me a pouco,
Aperceber-me que não quero ficar em casa...
Hoje soube-me a pouco,
Ansiar pela Queima...
Hoje soube-me a pouco,
Desejar que o tempo não passe...
Não sei porque,
Mas hoje nada me soube bem!
Marcelo Chagas
ouvir esta música do Sérgio Godinho...
Hoje soube-me a pouco,
Dormir e faltar às aulas...
Hoje soube-me a pouco,
Fazer a cama...
Hoje soube-me a pouco,
Beber aquele café depois do almoço...
Hoje soube-me a pouco,
Ir até lá acima buscar um livro...
Hoje soube-me a pouco,
Vir para baixo fazer um trabalho...
Hoje soube-me a pouco,
Ter de vir para casa...
Hoje soube-me a pouco,
Preencher o formulário de inscrição...
Hoje soube-me a pouco,
ver o episódio de "Friends" que me fez rir...
Hoje soube-me a pouco,
Ligar o PC...
Hoje soube-me a pouco,
Mandar aquele mail...
Hoje soube-me a pouco,
Mandar-te essa mensagem...
Hoje soube-me a pouco,
ter que te responder...
Hoje soube-me a pouco,
Ligar a tv...
Hoje soube-me a pouco,
Descobrir que não me apetece sair...
Hoje soube-me a pouco,
Aperceber-me que não quero ficar em casa...
Hoje soube-me a pouco,
Ansiar pela Queima...
Hoje soube-me a pouco,
Desejar que o tempo não passe...
Não sei porque,
Mas hoje nada me soube bem!
Marcelo Chagas
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