Nesta localidade onde se encontra esta aldeia de A-da-Gorda no Concelho de Óbidos a 1 707Km de Paris, cidade onde em 1948 foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e onde no artigo 22º pode ler-se que:
“Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.”
Talvez este artigo não tenha ligação ao que se passa numa terriola que tem tantos habitantes quantas pessoas visitam a cada hora a torre Eiffel. Tanto estes visitantes como aqueles habitantes dum lugar incógnito são humanos, têm direitos, e daí, são alvos desta declaração. Infelizmente, nem a prima Arminda nem a Sra que sofre de Alzheimer podem, agora, vislumbrar da verdura dos Campos Elísios ou a imponência do Arco do Triunfo. Mas com a ajuda do apoio domiciliário e social da Associação “Presente e Futuro”, que pertence, em conjunto, com outros centros de outras localidade, à rede de Centros de Dia a Convívio “Melhor Idade” na Freguesia de Santa Maria, Óbidos, é possível repor-lhes um sorriso na cara e um prato de comida quente. Este serviço de refeições não se traduz apenas no consumo interno da associação, é também uma das suas fontes de receita desta, tal como outros serviços.
Diariamente são distribuídas várias refeições pelos domicílios dos que mais precisam. “Há pouco tempo atrás íamos a casa de um casal muito idoso e ponhamos-lhes a mesa e o comer no prato e eles só tinham de usar os talheres” recorda a Dª. Ana, acrescenta: “e em vez de irmos na parte da tarde para arrumar a mesa e tratar do resto da casa como fazemos em alguns casos, eles pagavam a uma vizinha para ir fazer o nosso serviço.” Hoje não houve oportunidade de conhecer esse casal, morreram os dois no espaço de 2 meses.
Mas tive o prazer de ir a casa de um ex-militar das Forças Armadas e de sua mulher, vivaça e espevitada, que contrasta com as limitações físicas do seu companheiro (mas mesmo assim são praticamente independentes), que se exercitava numa passadeira para cumprir o seu “dever” de se mover: “se for lá para fora tinha logo de parar por causa das dores, aqui estou como quero e os apoios da máquina são melhores do que as muletas”, dizia, antes de explicar que o seu estado de segurança neste aparelho se devia a um sistema de segurança que a passadeira trazia, que em caso de desequilíbrio, esta pára imediatamente. A falta de saúde levou-o a uma experiência nova já nos seus 80 anos: “quando íamos na caravana para o Algarve tive de parar num centro de saúde no Alentejo porque estava a sentir-me muito mal, depois mandaram-me para o hospital militar, e de lá, foi recambiado para o Hospital de Faro. Foi a primeira vez que estive num hospital público!”. “Mas até que não me posso queixar, o pessoal foi fantástico, profissional, competente; pena foi o material disponível. Tive de lá ficar dois dias numa cama porque das máquinas que me iam examinar, avariaram-se as duas”, explica. Entre o barulho ruidoso do aspirador que a Dª Ana manuseava e do tilitar da porcelana polida pela Dª Noémia, lá o ex-oficial explicava as funções do seu trono, a tal cadeira, idêntico ao do reino da prima Arminda, e falava dos serões confortáveis que ali passava junto da TV como que se de um miúdo se tratasse quando pode ficar mais 5 minutos depois do jantar em frente à “caixa mágica”(só por estar).
De regresso à Associação, é explicada a razão pela qual este casal, apesar de ter um serviço ao domicílio na sua localidade (na Amoreira, a 5km da A-da-Gorda) o “recusou”, pois seria mais dispendioso: “Aquela Associação pertence a uma entidade do estado, e quem beneficia daquele serviço terá de pagar uma percentagem consoante a reforma que recebe.” Ao contrário da Associação “Presente e Futuro”, que tem uma tabela de preços fixos, onde independentemente dos rendimentos (reformas) de quem se dispõe a beneficiar dos seus serviços, pagam exactamente o mesmo. Sendo uma Associação dita “privada”, e como o dinheiro não cai do céu, o centro vive da “boa vontade das pessoas”. Ao fim-de-semana é costume fazerem-se bolos e outros petiscos consoante as encomendas e alguns até a mais que, no entanto, têm boa saída. “Ainda a semana passada fizemos dois pães de ló para o nosso lanche e depois foram lá e compraram-nos os pães. Tivemos de lanchar só o chá”, contava a Dº Noémia enquanto passeávamos, no intervalo do almoço, o Leonardo, um cão de raça S. Bernardo que ficou a seu encargo depois da emigração da filha, que, tal como as pessoas que ela visita e ajuda diáriamente, também ele tem problemas de saúde e de solidão que ela tão bem conhece.
“Todo o homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.”
Talvez este artigo não tenha ligação ao que se passa numa terriola que tem tantos habitantes quantas pessoas visitam a cada hora a torre Eiffel. Tanto estes visitantes como aqueles habitantes dum lugar incógnito são humanos, têm direitos, e daí, são alvos desta declaração. Infelizmente, nem a prima Arminda nem a Sra que sofre de Alzheimer podem, agora, vislumbrar da verdura dos Campos Elísios ou a imponência do Arco do Triunfo. Mas com a ajuda do apoio domiciliário e social da Associação “Presente e Futuro”, que pertence, em conjunto, com outros centros de outras localidade, à rede de Centros de Dia a Convívio “Melhor Idade” na Freguesia de Santa Maria, Óbidos, é possível repor-lhes um sorriso na cara e um prato de comida quente. Este serviço de refeições não se traduz apenas no consumo interno da associação, é também uma das suas fontes de receita desta, tal como outros serviços.
Diariamente são distribuídas várias refeições pelos domicílios dos que mais precisam. “Há pouco tempo atrás íamos a casa de um casal muito idoso e ponhamos-lhes a mesa e o comer no prato e eles só tinham de usar os talheres” recorda a Dª. Ana, acrescenta: “e em vez de irmos na parte da tarde para arrumar a mesa e tratar do resto da casa como fazemos em alguns casos, eles pagavam a uma vizinha para ir fazer o nosso serviço.” Hoje não houve oportunidade de conhecer esse casal, morreram os dois no espaço de 2 meses.
Mas tive o prazer de ir a casa de um ex-militar das Forças Armadas e de sua mulher, vivaça e espevitada, que contrasta com as limitações físicas do seu companheiro (mas mesmo assim são praticamente independentes), que se exercitava numa passadeira para cumprir o seu “dever” de se mover: “se for lá para fora tinha logo de parar por causa das dores, aqui estou como quero e os apoios da máquina são melhores do que as muletas”, dizia, antes de explicar que o seu estado de segurança neste aparelho se devia a um sistema de segurança que a passadeira trazia, que em caso de desequilíbrio, esta pára imediatamente. A falta de saúde levou-o a uma experiência nova já nos seus 80 anos: “quando íamos na caravana para o Algarve tive de parar num centro de saúde no Alentejo porque estava a sentir-me muito mal, depois mandaram-me para o hospital militar, e de lá, foi recambiado para o Hospital de Faro. Foi a primeira vez que estive num hospital público!”. “Mas até que não me posso queixar, o pessoal foi fantástico, profissional, competente; pena foi o material disponível. Tive de lá ficar dois dias numa cama porque das máquinas que me iam examinar, avariaram-se as duas”, explica. Entre o barulho ruidoso do aspirador que a Dª Ana manuseava e do tilitar da porcelana polida pela Dª Noémia, lá o ex-oficial explicava as funções do seu trono, a tal cadeira, idêntico ao do reino da prima Arminda, e falava dos serões confortáveis que ali passava junto da TV como que se de um miúdo se tratasse quando pode ficar mais 5 minutos depois do jantar em frente à “caixa mágica”(só por estar).
De regresso à Associação, é explicada a razão pela qual este casal, apesar de ter um serviço ao domicílio na sua localidade (na Amoreira, a 5km da A-da-Gorda) o “recusou”, pois seria mais dispendioso: “Aquela Associação pertence a uma entidade do estado, e quem beneficia daquele serviço terá de pagar uma percentagem consoante a reforma que recebe.” Ao contrário da Associação “Presente e Futuro”, que tem uma tabela de preços fixos, onde independentemente dos rendimentos (reformas) de quem se dispõe a beneficiar dos seus serviços, pagam exactamente o mesmo. Sendo uma Associação dita “privada”, e como o dinheiro não cai do céu, o centro vive da “boa vontade das pessoas”. Ao fim-de-semana é costume fazerem-se bolos e outros petiscos consoante as encomendas e alguns até a mais que, no entanto, têm boa saída. “Ainda a semana passada fizemos dois pães de ló para o nosso lanche e depois foram lá e compraram-nos os pães. Tivemos de lanchar só o chá”, contava a Dº Noémia enquanto passeávamos, no intervalo do almoço, o Leonardo, um cão de raça S. Bernardo que ficou a seu encargo depois da emigração da filha, que, tal como as pessoas que ela visita e ajuda diáriamente, também ele tem problemas de saúde e de solidão que ela tão bem conhece.
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